terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Artista perdido em si mesmo

Saber o lugar que ocupamos nesse meio artístico é uma coisa extremamente complexa. Porque é claro que todos aqueles que minimamente fazem arte com certa frequência na vida espera poder viver com certa diginidade da profissão que escolheu pra si.

Perceber esse lugar no mundo é fundamental. A partir dessa sacada, o artista é capaz de aglutinar força com os seus, construir parcerias, planejar suas ações a curto, médio e longo prazos e, principalmente conceituar sua obra e colaborar para a formação de público.

E é nesse ponto que percebo que devemos focar.

Na falta de planejamento de grupo (com ações que só cabem a si próprios) e de classe (percebendo seu entorno e unindo forças em torno de um projeto coletivo) os grupos ficam trabalhando à deriva e se esquecendo que aí reside a vitória secular contra a popularização das artes como um todo e a falta de políticas culturais consistentes que nos ajudem a trabalhar com mais tranquilidade.

Ficam vivendo de eventos esporádicos achando que isso por sí só já basta para que seu trabalho seja "reconhecido" e assim possa ganhar mais visibilidade. Bobeira sem tamanho.

O que faz seu trabalho ser reconhecido e ter respaldo é o quanto de ética você leva pra ele, o quanto de generosidade você está disposto a desprender pelas forças coletivas, pelo grau de comprometimento que você terá para deixar a sua obra com qualidade de estética (pensamento) e cênica (produção e circulação da obra) e não ficar mendigando apoios do poder público.

Poder público não é balcão. É uma entidade que só serve se for pra legitimar os resultados de acúmulos de lutas em pró de pensamentos que foram construídos para o crescimento da maioria da população. As lutas com o poder público é por leis, políticas importantes e abrangentes, construção da cidadania e, também no nosso caso, investir em projetos que vão na contramão da indústria cultural aí imposta.

Ah, mas sempre me esqueço que nós artistas não estamos dispostos a lidar com esses valores. Talvez porque não os temos; talvez porque queremos ser reconhecidos da mesma forma que a industria cultural faz com os lixos que hoje criticamos; talvez porque, ao não acreditar na nossa ética também não somos capazes de crer que exista uma ética; talvez porque não somos artistas: somos atores, atrizes, escritores, cantores, músicos...

E o mundo não precisa de atores, atrizes, escritores, cantores, músicos. O mundo precisa de artistas.  E artista cobra do poder público sua tarefa e faz a sua enquanto cidadão.

E pra ser cidadão, deve-se ir pro sacrificio. Lutar por sí não é sacrificio. Sacrifico é lutar pela construção coletiva. Com ou sem poder público. Porque ele passa, mas a arte sobrevive.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A próxima peça será uma comédia.

O Teatro da Neura está de processo novo!

Depois de montagens das mais variadas, achamos que uma comédia seria uma boa pedida. Essa vertente bem saboreada nos encontros pessoais do gtrupo vai virar cena. Não que as nossas peripécias irão para o palco, mas é que decidimos experimentar essa técnica tão elaborada ,complexa, perigosa e divertida que é exercitar o riso.

E nos deparamos com novidades o tempo todo. Desde a parte teórica que devemos estudar com mais afinco até as salas de ensaio onde os personagens vão se desenhando, como que se quisesse nos pregar uma peça.

Quase um esconde-esconde.

E como é bom começar um processo. Já sabemos que não teremos dinheiro pra fazer, já sabemos que o que nos resta é o estudo em meio a nossos afazeres cotidianos, nossas buscas pelo dindin da vida, mas sabemos que estamos prontos para mais uma etapa.

Sim, é um post pessoal, mas tranferível para aqueles que puderem acompanhar aqui alguns passos desse processo.

Não estamos prontos, mas ficaremos.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Quem for da Muralha levanta o ego!

Quando a gente vai aprender Stanislavsk, a gente sempre aprende a coisa do Círculo de Atenção, Ação Interior e Ação Exterior, Construção Interior do Personagem, Super Objetivo, Objetivo  e tantas outras ferramentas - que alguns, errôneamente chamam de método - e vamos pra cena. 


Tudo bem que o nosso amigo russo é para a maioria do pessoal do teatro o que Karl Marx é para a maioria dos socialistas - todos falam mas ninguém leu. Mas isso é um tema que um dia entrarei com mais afinco.


Mas tem um tema que Stanislavsk trata - e não é velado não - que é nossa postura ética perante a vida, os outros, a profissão. A prova que todos falam mas ninguém leu está exatamente nesse ponto: vamos pra cena para sermos bons atores, mas esquecemos que estar em cena com uma postura ética que nos antecede.


E aí vale tudo: passarmos por cima de pessoas próximas, tentar desestruturar colegas de profissão, não ser generoso em cena e pensar somente "na sua parte", não se preparar para dar aula/workshop/oficina/ESPETÁCULOSABERTOSPARAPOPULAÇÃO!!!!!!!!!!!!!!! e coisa simples assim. hunf!!


Ética não é algo que se constrói no discurso. E uma luta voraz que devemos ter em todas as nossas práticas porque o sistema que nos colocam é injusto, cruel e implacável. Portanto, lutar na vida com ética é chegar depois que os outros em alguns lugares.


Não basta chegar; temos que chegar primeiro para olharmos pra trás e dizer - para ninguém a sua frente porque não há mais ninguém - que você chegou com o "seu próprio esforço e com muitas dificuldades".


E não queremos chegar depois porque muitas vezes, chegar depois significa chegar junto. 
Mas por que chegar junto quando o legal é chegar só pra se destacar no mundo cão?
Por que se disseminar com os outros lutadores quando o bom é ser general de si mesmo numa batalha que só você está travando?
Por que praticar a ética quando o legal é cuidar de se fortalecer deixando atrás de si, um rastro de egos inflados, vaidades de bijuterias e disputas por pirulitos?


Não sei.
Só sei que a ética não é o nosso Tendão de Aquiles. Ela é a nossa Muralha da China.