Quando a gente vai aprender Stanislavsk, a gente sempre aprende a coisa do Círculo de Atenção, Ação Interior e Ação Exterior, Construção Interior do Personagem, Super Objetivo, Objetivo e tantas outras ferramentas - que alguns, errôneamente chamam de método - e vamos pra cena.
Tudo bem que o nosso amigo russo é para a maioria do pessoal do teatro o que Karl Marx é para a maioria dos socialistas - todos falam mas ninguém leu. Mas isso é um tema que um dia entrarei com mais afinco.
Mas tem um tema que Stanislavsk trata - e não é velado não - que é nossa postura ética perante a vida, os outros, a profissão. A prova que todos falam mas ninguém leu está exatamente nesse ponto: vamos pra cena para sermos bons atores, mas esquecemos que estar em cena com uma postura ética que nos antecede.
E aí vale tudo: passarmos por cima de pessoas próximas, tentar desestruturar colegas de profissão, não ser generoso em cena e pensar somente "na sua parte", não se preparar para dar aula/workshop/oficina/ESPETÁCULOSABERTOSPARAPOPULAÇÃO!!!!!!!!!!!!!!! e coisa simples assim. hunf!!
Ética não é algo que se constrói no discurso. E uma luta voraz que devemos ter em todas as nossas práticas porque o sistema que nos colocam é injusto, cruel e implacável. Portanto, lutar na vida com ética é chegar depois que os outros em alguns lugares.
Não basta chegar; temos que chegar primeiro para olharmos pra trás e dizer - para ninguém a sua frente porque não há mais ninguém - que você chegou com o "seu próprio esforço e com muitas dificuldades".
E não queremos chegar depois porque muitas vezes, chegar depois significa chegar junto.
Mas por que chegar junto quando o legal é chegar só pra se destacar no mundo cão?
Por que se disseminar com os outros lutadores quando o bom é ser general de si mesmo numa batalha que só você está travando?
Por que praticar a ética quando o legal é cuidar de se fortalecer deixando atrás de si, um rastro de egos inflados, vaidades de bijuterias e disputas por pirulitos?
Não sei.
Só sei que a ética não é o nosso Tendão de Aquiles. Ela é a nossa Muralha da China.
Existe uma cultura que nos ensina (há tempos)a trabalhar para a autopromoção, a desenvolver o senso da individualidade e esquecer a importância do coletivo. Acho uma tristeza permearmos os trilhos humanos que a arte nos propõe e ao mesmo tempo, em nome do “artista que supomos ser” (sim, as vezes supomos ser muito mais do que realmente somos), alimentarmos a vaidade que alimenta o nosso desejo de que as pessoas não progridam ou não tenham mais destaque do que nós. Gosto da provocação que o texto coloca diante dos olhos – Ética para além do discurso. Ou somos éticos para além do discurso, ou paramos com o discurso. Porque defender a ética que eu não respeito, não valorizo e não vivo em meus atos, é muuuuito fácil. "Lutar na vida com ética é chegar depois que os outros em alguns lugares", fato. E aliás, será que a falta de ética não confere a Insegurança profissional?
ResponderExcluirPS: adorei a imagem escolhida para ilustrar o post.