segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Ah se todo sequestro fosse assim!



Completamente sintonizado com as movimentações que estão em curso desde o início do Governo Lula no que se refere a luta dos artistas brasileiros pelo protagonismo cultural a que o governo FHC (PSDB, DEM, PFL - é tudo a mesma coisa) quis mostrar impossível, a Cia do Escândalo rejuvenesce com a montagem "O Sequestro do Secretário de Cultura" que vai até o dia 18 de setembro no Galpão Arthur Netto, sede do grupo.


Não há sinopse melhor pra peça: "Um grupo de teatro que interpreta um grupo de teatro que sequestra o Secretário de Cultura".

De forte desempenho em cena, com cuidados para não deixar a peça cair de ritmo e pegada, o elenco mantém a todo tempo o foco para aquilo que estão e trazem a tona palavras que talvez a classe artística já ouviu em algum lugar mas que, por algum motivo que meu pouco repertório não consegue saber, não torna o espetáculo com meras informações clichês - um risco sempre perigoso aliás.

Bom perceber que o elenco se encaixa perfeitamente para os personagens que fazem, não precisando potencializar nem inventar nada. Com apoderamento do tema, simplesmente fazem e deixm a mensagem básica aparecer.
Obviamente que também não vai faltar as crises já sabidas da própria classe que, enfiada dentro de um sistema de disputa e egos, não consegue avançar em torno de suas reivindicações mais simples se enfraquecendo no meio do discurso e não se colocando como cidadão que, ao fazer seu tabalho, é capaz de reiventar seu mundo e perceber outro possível.

E aí tem pra todos os gostos: o artista pleno, o engajado, o novato, a ingênua e o apaziguador. Dentro dessa fórmula que se encaixa dentro do teatro de grupo, também alí se vê um micro das atitudes mais comuns de um ser humano hoje em dia. 

Claro que falta outros como o egocentrista que se coloca a frente de tudo e todos e se fere com pouco, mas não era essa a questão. Era pegar um apanhado e deixar a peça colocada pra análise aberta de um momento complexo e, infelizmente, com rumos pouco definidos.

E nesse ponto a peça alcança com todos os méritos de uma pesquisa absorvida pelo grupo e colocada em cena de forma tranquila, sem muitas ansiedades.

Que bom ver a Cia do Escândalo provocando e nos trazendo pra reflexões nossas.


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