Cenário de Vidros do Teatro da Neura (2008) no Galpão das Artes em Suzano,
espaço esse desativado pela administração do atual secretário Suami de Azevedo
Está cada vez mais difícil produzir e acho que é por isso mesmo que cada vez mais a criação verdadeira se faz necessária. Artista que cria de verdade é como água que vai escorrendo e insistindo em abrir passagem em meio a rochas, plantas, desvios, barrancos...vai correndo, pingando e tomando seu espaço.
E é no quesito espaço que a coisa fica boa quando tratamos de produção artística. Na região do Alto Tietê, depois de anos e anos de lutas, produções e trocas de vários agentes culturais é possível ver artistas e população esbanjar encontros. São escritores, atores, músicos, bailarinos, artistas plásticos e as variações de tudo, unido a coragem monstra de manter ações ou até mesmo espaços culturais para criar e apresentar trabalhos.
Todos com suas estratégias de sobrevivência estão num processo sem volta de independência e liberdade criativa. Do outro lado e com garras bem afiadas e sedutoras, os poderes públicos tentam a todo custo manter alí, com rédea curta, toda manifestação que não está sob a sua tutela.
E assim seguimos.
Mas os espaços prosseguem. Os grupos que os mantém, também. As vezes escravos de seu próprio sonho, avançam rumo a construir tanto uma economia de cultura - sem medo bobo do que isso signifique - e uma história de cidadania e libertação do ser humano de suas possíveis limitações. Sobreviver no capitalismo é tarefa quase esquizofrênica, mas imprescindível num mundo que caminha para o abismo das relações.
Missão importante, na região do Alto Tietê, para os espaços da Associação Cultural Opereta (Poá), Casa da Coruja, Espaço Cultural da Troupe Parabolandos e Teatro Contadores de Mentira (Suzano) e Galpão Arthur Netto (Mogi das Cruzes). Sem falar dos inúmeros Pontos de Cultura e outros espaços alternativos de difusão cultural como a Cazéba Cultural (Mogi das Cruzes) - apenas para citar um exemplo.
Se as grandes empresas desse mundo não tem fronteiras para implementar suas fábricas e seus lucros, nós artistas também não temos. Mas esse pensamento ainda é novo. Parabéns para os coletivos que já há algum tempo estão trocando preciosas informações e conhecimentos em torno de uma nova forma de agir em conjunto. Cada vez mais o mundo nos aperta e afrouxamos nossa passagem na base de muito empurra-empurra.
Para onde vamos, talvez apenas desconfiemos. Mas já se sabe que os poderes públicos terão que acompanhar - e rápido - essas novas movimentações sob pena de ficarem estagnados no tempo e sem prestígio no que se refere a apoiadores de peso nos processos eleitorais que inevitavelmente estamos nos enfiando.
Do outro lado, o apoio público está cada vez mais ao lado desses espaços e artistas pois sabem que alí há identificação verdadeira. Aos poucos se tornam espaços referência e conquistam pessoas de todos os lugares. É trabalho de formiguinha, mas incansável.
É trabalho que vai escorrer, pingar, jorrar...e ocupar seu merecido espaço.
Realmente, manter a cultura neste país é uma tarefa insana e são poucos os que não esmorecem perante as adversidades. Parabéns a vocês, do Teatro da Neura, que se mantêm fiéis aos seus propósitos: divulgar e popularizar (no bom sentido) o Teatro, no Alto Tietê. Abraços.
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