Essas próximas duas semanas ainda tem o Teatro da Neura comemorando seus 10 anos. Para esses dias de maio duas apresentações tem um fator muito especial para o grupo: a sensação de continuidade.
Esse maio não começou bem, convenhamos. Com o desrespeito da Secretaria Municipal de Cultura de Suzano no que se refere ao agendamento de dois eventos no mesmo dia - já denunciado aqui anteriormente - insistimos a reviver algumas de nossas montagens com leituras dramáticas.
Agora nesse fim de semana seguimos com uma montagem importantíssima.
PATER 2006
No momento em que essa peça começou a ser montada, o grupo possuía 4 membros. Tínhamos acabado de estrear o primeiro espetáculo nosso e alguns integrantes resolveram seguir sua vida com novos objetivos. Justo. Mas o fato é que não tínhamos nada a vista.
Como o Teatro da Neura não é só porrada que leva, sempre tivemos a sorte de ter conosco dois dramaturgos que quando escrevem juntos criam obras fantásticas: Antonio Nicodemo e Tuane Vieira. Nessa ocasião, sentaram pela primeira vez. Era um teste, um primeiro encontro entre pessoas que nem sabiam que eram dramaturgos: queriam mais era escrever para que o grupo tivesse algo para apresentar. E, detalhe, tendo apenas duas atrizes no elenco.
Depois de algum tempo - pouco tempo - nos deparamos com o Pater. E imediatamente iniciamos o processo de pesquisa. Em peça de teatro de grupo, para quem não sabe, você sabe como começa uma nova montagem, mas não sabe como termina. Nesse caso o processo nos consumiu demais. Fomos por várias vertentes de pesquisa. Imergimos em pessoas, locais e vivências que transformou e transtornou o elenco e equipe técnica que já estava tomando forma dentro do grupo. Quase acabamos - seria o primeiro quase fim.
Apresentamos poucas vezes. Estreamos nos Satyros - e naquela mesma ocasião decidimos que nunca mais nos apresentaremos lá novamente - enos apresentamos muito poucas vezes em Suzano. Pena. Desistimos em meio a lágrimas numa reunião de planejamento do grupo. Processo de 1 ano e 8 meses de ensaios. Fim
PATER 2014
Nada como o tempo pra entender que as vezes, um espetáculo pede para acontecer; que as vezes ele precisa acontecer. Ele pode estar acima do grupo, dos atores. As vezes uma peça precisa ser apresentada! Sentimos isso com Pater e por isso decidimos não apenas remontar para os 10 anos de grupo, mas para que permaneça como repertório permanente; que possamos, sempre que rolar, apresentar em vários espaços, cidades, circunstâncias.
Sem o peso da primeira montagem, a peça vai ganhando forma, movimento... O peso da primeira montagem foi embora para vir o peso da mensagem que a peça traz. O elenco é novo, não tem a carga que passou-se em 2006. Demorei pra entender, pra assimilar. Como é gostoso quando o único problema da montagem é o texto que as vezes falha...
Ao planejarmos essa pré-estreia sabemos que ela será para o público nos nortear. É um encontro tímido mas cheio de vontades, ansiedades, desejos, acolhimentos. Pater não é peça fácil. É crua, bate fundo e pode surpreender de maneira irreversível uma pessoa. Quase sufoca mas também é voz que fala para aquelas que tem ou tiveram que ficar caladas.
Nesse fim de semana o Teatro da Neura segue acreditando que a arte pode e deve dar voz para a injustiça, para o silêncio. Pater vai romper o nosso silêncio.
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