Por Tuane Vieira
Permitam-me uma reflexão estranha sobre o "choque cultural" que estou enfrentando nesta II Conferência Nacional de Cultura.
É impossível não pensar o quanto nós, paulistas, estamos esmagando as manifestações culturais do nosso Estado (se é que um dia elas existiram), que é exatamente a identificação máxima de um povo.
Não temos a menor cara, e se temos, não lembramos mais como ela é. Se são as caipiras, a moda de viola, a catira, então elas não estão representadas nesta Conferência, pois os integrantes da delegação de São Paulo me parecem tão cosmopolitas e urbanos quanto eu.
No alto do meu ódio, cheguei até a conclusão de que faz todo o sentido quase 20 anos de dominação tucana e conservadora em São Paulo. Quão burgueses, até na cultura, somos. Nada temos a oferecer de nosso, de legítimo, nada que já não esteja sendo feito com maior originalidade e capacidade pelos nossos companheiros nordestinos e nortistas.
E quando um cara da nossa delegação foi cantar no encontro de Delegações do Sudeste, teve gente que achou ruim.
Bem, mas mudando de assunto, não deixando de ser subjetiva.
Tudo nesta Conferência é novidade pra mim, com excessão de uma coisa: a confusão.
Acho que ela é a palavra chave que impera quando vc quer ser democrático e consultar as pessoas para fazer política pública. Mas não a confusão "sayadiana" que desrespeita as pessoas, mas aquela que quer se resolver com todo mundo junto, ajudando. Você se sente parte da confusão mas também se sente parte de um todo, pois sabe que se vc tiver uma idéia genial para resolver as mais incríveis questões mundiais culturais, você será ouvido. Já vi isso milhões de vezes nessa Conferência, inclusive para resolver questões mínimas, como o credenciamento da Delegação de Rondônia, que chegou atrasada pois o Estado não quis pagar a passagem e eles alugaram um busão. Chegaram hoje (dia 12), às 9h, e ontem, na votação do regimento interno (cuja a plenária foi soberana sob controle de uma mesa organizadora PERFEITA!!!), alteraram a data de credenciamento para hoje, às 12h. Acho isso fantástico.
Além disso, toda a manifestação cultural é bem vinda, a qualquer hora; existem pessoas engraçadíssimas com todo e qualquer tipo de intenção possível, inclusive o de vender e comprar serviços. Mas a possibilidade de se sentar ao lado de um índio pataxó para ouvir o discurso do Lula é surreal. Me sinto uma caipira (daquelas legítimas mesmo) olhando para as pessoas de outros estados, uma espécie de inversão da máxima "guaxinins de Suzano" (piada interna Cidãonesca). Não parece ter vida inteligente fora do Sudeste. E se há, é pra nos fazer divertir e descansar. Patética a minha própria visão do mundo.
Para finalizar (não falarei de política cultural hoje; pois as salas ainda não começaram), quero destacar três coisas:
1- Como o clima de Brasília é ameno e gostoso, bem parecido com o de São Paulo. Portanto, tudo o que dizem sobre a "secura" de Brasília, neste momento, AINDA não se confirmou;
2- O nosso ministro da Cultura, Juca Ferreira fala melhor (entenda-se melhor por: "falar com o coração, de peito aberto, de forma que podemos nos emocionar) que a Dilma. Aliás, que belo discurso inflamado e improvisado que ele deu na abertura ontem. Fiquei feliz por um cara tão esclarecido ser nosso Ministro;
3- Gente, o Lula é fantástico. Podem falar o que quiser, mas ontem, além de eu estar muitíssimo emocionada por ter ido, repentinamente um acesso patriótico e chorar por cantar o hino nacional na Capital Federal, eu tive a possíbilidade de ver um discurso do Lula ao vivo. E pela primeira vez fiquei realmente ressentida de não haver um terceiro mandato pra ele. Não é a toa que esse cara é o melhor presidente que o Brasil já teve, e não é a toa que tem a popularidade que tem. É incrível o carisma e a forma simples porém impactante que ele se dirige as pessoas. Fiquei extremamente comovida, e acho que esse cara vai ficar pra sempre na história deste país. Ele é sincero, franco, engraçado e simpático com todos. Espero que na Teia Nacional, em Fortaleza daqui há 2 semanas, ele possa estar presente e nos brindar com mais uma fala maravilhosa. Lula, sou sua baba-ovo. Prontofaley.
Daqui a pouco mando mais notícias. Se a lan house deixar.
Beijos Federais.
Tuane Vieira
Delegada eleita pelo estado que menos contribui pela cultura deste país.
P.S.: Se eu fosse 1% mais inocente, acreditaria que os representantes da Secretaria de Estado da Cultura de SP que estão na Conferência tenham aprendido como se trata as pessoas com respeito numa plenária, sem perder a ternura. Mas não acredito em Coelho da Páscoa. Então, pra não perder o costume: FODA-SE SERRA.
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