segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Essa coisa chamada Edital


Cada vez que um edital público sai para produção ou circulação em teatro nesse país, centenas de grupos vão com tudo na tentativa de conseguir trabalhar com mais dignidade, tranquilidade e garantir um pouco mais de sossego pra realizar a nossa profissão.

E aí mandamos na esperança de que nós, pobres mortais que fazem teatro fora dos grandes centros, possamos colaborar para a descentralização das verbas públicas no âmbito cultural. E aí vemos os mesmos fenômenos acontecendo: na maioria das vezes são grupos que já recebem algum tipo de subsídio ou patrocínio ou fomento que são contemplados.

Não é a intenção de tirar o mérito e a importância desses grupos no que se refere as suas conquistas ao longo de suas lutas. Longe disso.

Mas também não somos bobos. Sabemos que também não é possível que somente cerca de 30 grupos no Brasil - e se for fechar aqui em São Paulo a coisa fica ainda mais restrita - sejam sempre aqueles que estão habilitados a conquistar a chance de continuar seus trabalhos com dinheiro no bolso.

Então é importante ressaltar um ponto que deve-se fazer força:

Deve-se mudar a maneira de como os editais são anunciados. Concordo que a ficha técnica é hoje um ponto importante de avaliação paupável, mas também deve-se perceber que os grupos, malandramente, conseguem manobrar fichas técnicas porque sabem que este é um fator de relevância na hora de classificar o projeto.

Tem gente que está na ficha técnica mas não teve conhecimento do projeto. É fato. É lembrado, assina uma declaração e pronto: ganha uma graninha se o projeto passar sem estar envolvido diretamente com todo o processo de produção ou circulação. Ou seja, virou um mercado dos editais porque, ao longo de todos esses anos, os grupos já sacaram a fórmula e estão sobrevivendo mediante essa manobra.

Quando digo grupos, ainda ouso dizer que podem ser até agrupamentos: pessoas que se juntam e só vão fazer aquele trabalho se rolar a grana. E daí se não fizermos não é mesmo? Não estamos nisso pelo projeto; estamos pela grana num é mesmo?

Sendo assim, grupos da região do Alto Tietê, por exemplo, que possuem anos de pesquisa e também com a sua dignidade sendo construída ao longo de muito trabalho, suor, formação e luta contra administrações públicas que vira e mexe acabam privilegiando os de fora, simplesmente não terão oportunidade de conquistarem a experiência de conquistar nenhum edital porque não frequentar o circuito paulista.

Portanto amigos, temos duas lutas importantes. Uma a gente já faz que é fazer nossas peças sem nos preocupar com editais. A outra é que, seja como for, haja o que houver, é importante sabermos que as coisas são assim mesmo e que só mudará com muita luta e articulação política.

Mas será que estamos prontos a mexer no vespeiro que é edital público? Estamos preparados?



2 comentários:

  1. E aí dá vontade de desistir, não é mesmo?
    E aí muita gente desiste, não é mesmo?
    E aí só ficam os bobos mexendo (ou tentando mexer) no(s) vespeiro(s).
    (...)
    E uma vez, há uns 07 anos atrás, um jurado de um prêmio me perguntou: "por que o seu teatro é tão pessimista?"

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  2. O melhor é quando a gente passa por um jurado e não se lembra o nome do cara. Quer dizer, sem chance do cara saber do que estava falando.

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