Cada vez que um edital público sai para produção ou circulação em teatro nesse país, centenas de grupos vão com tudo na tentativa de conseguir trabalhar com mais dignidade, tranquilidade e garantir um pouco mais de sossego pra realizar a nossa profissão.
E aí mandamos na esperança de que nós, pobres mortais que fazem teatro fora dos grandes centros, possamos colaborar para a descentralização das verbas públicas no âmbito cultural. E aí vemos os mesmos fenômenos acontecendo: na maioria das vezes são grupos que já recebem algum tipo de subsídio ou patrocínio ou fomento que são contemplados.
Não é a intenção de tirar o mérito e a importância desses grupos no que se refere as suas conquistas ao longo de suas lutas. Longe disso.
Mas também não somos bobos. Sabemos que também não é possível que somente cerca de 30 grupos no Brasil - e se for fechar aqui em São Paulo a coisa fica ainda mais restrita - sejam sempre aqueles que estão habilitados a conquistar a chance de continuar seus trabalhos com dinheiro no bolso.
Então é importante ressaltar um ponto que deve-se fazer força:
Deve-se mudar a maneira de como os editais são anunciados. Concordo que a ficha técnica é hoje um ponto importante de avaliação paupável, mas também deve-se perceber que os grupos, malandramente, conseguem manobrar fichas técnicas porque sabem que este é um fator de relevância na hora de classificar o projeto.
Tem gente que está na ficha técnica mas não teve conhecimento do projeto. É fato. É lembrado, assina uma declaração e pronto: ganha uma graninha se o projeto passar sem estar envolvido diretamente com todo o processo de produção ou circulação. Ou seja, virou um mercado dos editais porque, ao longo de todos esses anos, os grupos já sacaram a fórmula e estão sobrevivendo mediante essa manobra.
Quando digo grupos, ainda ouso dizer que podem ser até agrupamentos: pessoas que se juntam e só vão fazer aquele trabalho se rolar a grana. E daí se não fizermos não é mesmo? Não estamos nisso pelo projeto; estamos pela grana num é mesmo?
Sendo assim, grupos da região do Alto Tietê, por exemplo, que possuem anos de pesquisa e também com a sua dignidade sendo construída ao longo de muito trabalho, suor, formação e luta contra administrações públicas que vira e mexe acabam privilegiando os de fora, simplesmente não terão oportunidade de conquistarem a experiência de conquistar nenhum edital porque não frequentar o circuito paulista.
Portanto amigos, temos duas lutas importantes. Uma a gente já faz que é fazer nossas peças sem nos preocupar com editais. A outra é que, seja como for, haja o que houver, é importante sabermos que as coisas são assim mesmo e que só mudará com muita luta e articulação política.
Mas será que estamos prontos a mexer no vespeiro que é edital público? Estamos preparados?
E aí dá vontade de desistir, não é mesmo?
ResponderExcluirE aí muita gente desiste, não é mesmo?
E aí só ficam os bobos mexendo (ou tentando mexer) no(s) vespeiro(s).
(...)
E uma vez, há uns 07 anos atrás, um jurado de um prêmio me perguntou: "por que o seu teatro é tão pessimista?"
O melhor é quando a gente passa por um jurado e não se lembra o nome do cara. Quer dizer, sem chance do cara saber do que estava falando.
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