terça-feira, 30 de abril de 2013

A FAMOSA CORTINA DE FUMAÇA


Já não é de hoje que sabemos que aqueles que pretendem fazer arte de forma autoral, de pesquisa e com ações continuadas estão fora das políticas públicas voltadas pra cultura no Brasil. Esses ficam se esfaqueando entre editais públicos com orçamentos bem reduzidos e resultados não raramente questionados.
É claro que nos deparamos com algumas boas tentativas que tiveram como foco leis específicas para as áreas que tentaram equilibrar as forças entre a fortíssima indústria cultural – que em média não precisa da interferência do Estado para suas atividades - e os fazedores de cultura que possuem apenas sua identidade, sua paixão, seus próximos e sua vontade de viver sua manifestação da melhor maneira possível.

E os poucos avanços ainda não reverberaram em todo o país. Não é prática. É, na maioria das vezes, uma vontade que morre na falta coragem ou competência para ser implementada. Na região do Alto Tietê é a mesma coisa. Em Suzano, idem.

A referência que Suzano deu para seus habitantes nos últimos anos foi incrível! Não há como negar (por mais que haja bandeiras contra) que a cidade viveu uma efervescência única nesse sentido.

Mas (porque sempre há um “mas”) a cidade não implementou nenhuma política que garantisse as atividades para além das ações que foram realizadas durante os últimos 8 anos e que tiveram grande adesão do público e artistas. Foi ação solta. Que dizia respeito apenas para aquelas pessoas que lá estavam e não tiveram comprometimento de continuidade para as próximas gestões e gerações.

E o resultado de uma política pública baseada apenas no bom senso (que foi perdendo força ao longo da gestão) e na comodidade é  vivermos hoje uma completa confusão entre política pública para cultura e ação cultural. O resultado só pode ser desastroso e trágico.

E aí, estávamos fora sem nos dar conta. Havia uma “fumaça” de boas ações nos impedindo de ver além. Estávamos vendo somente o agora.

Com a troca radical de gestão, a cidade ficou sem política cultural consolidada e a mercê de qualquer coisa. Então seus artistas estavam sozinhos, sem nenhuma lei que o amparasse para equilibrar as forças. Como não foi feito nada que garanta em lei a continuação das atividades, a simples vontade de seus novos gestores foi o suficiente pra acabar com tudo rapidamente.

A falta de políticas públicas da gestão passada e a truculência e morosidade na atual gestão são provas cabais que sempre estivemos fora. Se não fosse pela atuação incansável de seus fazedores (dentro e fora da Secretaria de Cultura), alguns artistas não teriam respaldo em seus trabalhos.

Hoje o que estamos vivendo é, em nome de sei lá o que, uma opressão sob a forma policial e política sobre os fazedores culturais de Suzano. Talvez por acharem que podem calar seus opositores como já foi feito na década de 90 na cidade. E ouso dizer que nem todos são opositores mas estão se tornando, veja só.

O resultado de tudo isso é todo mundo batendo cabeça: os artistas porque perceberam (será?) que nunca houve nenhuma política de Estado e continuam pedindo ações e gritando aos quatro ventos sem propostas e os novos gestores pela falta de competência em lidar com esses fazedores que só querem fazer (e continuam se esfaqueando.)

Acreditamos que a organização agora deve ser outra. Reaprender a se organizar em casa. Saber que, se ainda a política for de truculência, estamos prontos a seguir com a nossa arte porque ela é a nossa única e poderosa ferramenta de comunicação e de ação.

A classe nunca se organizou, sempre fez tudo por conta sem grandes articulações internas, em várias ocasiões travaram lutas entre si por espaços (físicos, orçamentários e artísticos) e agora forçam uma unidade que não foi construída quando teve tempo, oportunidade e lugar pra isso.

Sobram perguntas pra nós: Enquanto classe organizada (?), quais as reivindicações? Enquanto gestor público, a conversa agora será na base da truculência? O diálogo foi rompido mesmo? Será na base do medo que querem realizar as ações? O que incomoda tanto naqueles que querem fazer sua arte de forma independente? Sem diálogo, pra onde iremos? Pra que o cabo de guerra? Aliás, o cabo de guerra interessa a quem? Quais as forças que estão trabalhando por trás de nós, artistas? Nós somos a nossa voz ou estão querendo colocar palavras na nossa boca? Temos outras opções? Estamos interessados em políticas de Estado ou em estar dentro das ações da Secretaria de Cultura de Suzano?  Em qualquer uma das opções, quais as propostas? Elas tem respaldo na população? Temos essa análise clara das coisas ou está ainda trabalhamos na base do achismo?

Temos que admitir que ninguém aqui pode responder pela classe. Nós temos respostas para essas perguntas, mesmo que elas sejam equivocadas. Mas a única arma que temos por enquanto é no que acreditamos.

A única certeza que temos amigos, colegas e simpatizantes é que continuamos fora. A única diferença é que dessa vez não há cortina de fumaça pra nos anestesiar.

Um comentário:

  1. Pode valer a pena e ser transformador ter a oportunidade de olhar sem nenhum filtro leitoso a frente!

    Sempre resistimos (enquanto arte) a todos e tudo que nos atrapalha (sempre e muito) e agora não será diferente, mas podemos ao menos acreditar que sem ilusionismos baratos podemos agora partir pra uma conquista real e palpável.

    Patrícia Faria.

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