quarta-feira, 2 de julho de 2014

O VOO DA CORUJA


Com a desativação da Casa da Coruja cabe ao Teatro da Neura agradecer. Em meio a uma cidade onde os gestores públicos escolheram limitar ou desativar os espaços públicos tanto para os artistas da cidade quanto para o acesso do público a essas produções, cada espaço cultural independente é uma resposta importante para esse descaso.


 
Nesse exato 1 ano de atividades ininterruptas da Casa, fizemos de tudo: shows, estreias de peças teatrais, saraus, oficinas, exibições de filmes autorais, exposições de artes plásticas e palestras temáticas com forte presença do público e ampla divulgação tanto pela mídia local como o boca-a-boca tão importante e bem mais poderoso que qualquer outra forma de divulgação.


Toda essa movimentação foi construída com muita conversa, acordos, desacordos, convivência e avanços sempre com um olhar experimental de uma forma diferente de gestão de um espaço cultural. Sem apoios de nenhum órgão público ou privado, cada centavo investido na Casa da Coruja foi financiado pelo público que gentilmente visitava as atividades e colaborava com suas economias para que o projeto continuasse (incluindo os gestores).

Com a ousadia de seguir de maneira independente, levamos porrada de todos os lados. Aprendemos que se moradores da periferia precisam de acesso a cultura porque lá pulsa vida, criatividade, cooperação e resistência, os moradores do centro de uma cidade precisam de acesso a cultura justamente pela sua arrogância, conservadorismo, medo, medo e medo do outro. Acham que precisam de segurança quando na verdade precisam de um abraço.

E nós oferecemos os nossos abraços. E eram muitos e não cansamos em mantê-los abertos.

Com a desativação desse espaço, com certeza sabemos que colaboramos para fortalecer os pequenos milagres que a arte sempre proporciona. Vivenciamos em nós a prática complexa que é uma gestão democrática de fazedores culturais que produzem com suas diferenças de tempo, linguagem e pegada.

Agora estamos todos mais maduros. A arte, essa safada gostosa, juntou pessoas queridas e suas obras, os sorrisos e seus abraços, as parcerias e suas forças. Continuamos a luta. Aprendemos demais.

Aos parceiros da APPA e Poranduba que sempre foram no mínimo bacanas com a Casa da Coruja, vida longa e foco. Estamos juntos em todas as empreitadas que a arte nos juntar.

Ao público que ajudou demais comparecendo em todas as atividades que promovemos, um obrigado do tamanho dos corações belos que contagiam outros corações com alegria e satisfação. Vocês ajudaram, mesmo que pequeninhos, a materializar um sonho, uma utopia, um respiro.
Vocês foram ótimos!!!

Aos vizinhos insanos que nos olharam com desconfiança e não tiveram a coragem - por medo - de nos olhar nos olhos e conhecer os nossos sorrisos, boa sorte. A vida deve ser bem difícil fora dos seus apartamentos, garagens, festa no salão do prédio com hora pra terminar e "festa estranha com gente esquisita" que seus filhos vão pra caramba e vocês nem sabem. A vida não é fácil pra ninguém, tenho certeza.




A nós do Teatro da Neura cabe o aprendizado para novas porradas.
Vamos juntos, vamos todos porque o mundo é grande e os nossos corações devem ser maiores.

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