Os desafios para a classe artística do Alto Tietê estão cada
vez mais claros e nem por isso mais fáceis. Há na região a tentativa de um
pensamento único em torno de políticas públicas para a cultura e outras um
tanto quanto manipuladoras e manipuláveis, deixando a nós todos – sem exceção –
em xeque e por isso com grande senso de responsabilidade para atuarmos com
urgência sob o risco de vivermos num atraso que só nos livraremos anos e anos a
frente.
Exemplos simples não faltam.
Em Poá monta-se
um Conselho Municipal de Cultura que, em conversas e construção conjunta com a
classe artística imaginou-se que seria deliberativa, mas é dado um golpe nesse
processo e é levado para aprovação na Câmara um conselho consultivo e
praticamente pedindo desculpas por existir. Além disso, para uma cidade que não
cumpre um compromisso simples como esse do Conselho, está para inaugurar –
agora em outubro segundo promessas tucanas – um teatro que tende a ser o mais moderno da região com
investimentos na casa dos 17 milhões de reais e que nem começou a conversa da
política de uso, correndo o risco de continuar a referenciar sua população com
stand up pop, shows na linha do “pra que?” e sem nenhuma ou pouca participação
dos artistas locais.
Aliás, é comum ouvir dos gestores que sempre é importante
levar nomes “pops” da cultura brasileira porque eles “chamam” o público para as
outras atividades locais revelando total preconceito, despreparo e distorção da
função de um gestor público pra cultura.
Já em Suzano, com
um Conselho de Cultura desativado desde os idos de 2012 e na insistência de sua
continuidade e formação da nova diretoria, lida com uma gestão atrapalhada,
despreparada e mal humorada que nem conseguiu fazer uma Conferência de Cultura
em sua própria cidade, com um Secretário de Cultura medroso, fechado em seu
gabinete e atrasado no que se refere a políticas públicas sérias. Fechado em si
mesmo e no seu ego, persegue aqueles que elegeu como “da outra gestão”, não
dialoga com a classe porque não se interessa em ouvir e muito menos implementar
políticas modernas de cultura, não detém o controle de sua gestão frente a
pasta e assim resta tempo livre para escrever artigos no jornal local com
textos de pseudo auto ajuda.
Em Mogi das Cruzes
a falta de diálogo é uma constante, com um Secretário que parece ter se
esquecido dos lugares, pessoas e sensações que tanto trocou quando era
artista-produtor. Agora, depois de anos oferecendo eventos sem continuidade e
identidade, lança com muito orgulho uma Lei de Incentivo que só interessa mesmo
a quem é artista-produtor e mais ninguém. Também na tentativa de desarticular
seu Conselho de Cultura – que já fez parte e era atuante quando ainda era
artista-produtor – faz o básico de gestões sacadinhas: coopta e ajuda na base
da xícara, aqui e acolá.
E nisso tudo restam os artistas que insistem em pressionar
seus governos a avançar. Talvez, aquilo que os uma como forte enfrentamento
sejam seus conselhos. Porque a sociedade civil que está nos conselhos são
efetivamente aqueles que se preocupam com os novos tempos – sombrios – que a
região vem enfrentando.
Talvez seja a hora dos Conselhos de Cultura travarem
essa jornada na luta conjunta de esforços para pressionar os governos
municipais a tomarem as medidas que efetivamente possam colaborar para que a
população tenha melhor acesso a bens artísticos e que seus artistas realmente
possa se encontrar com os seus com mais tranquilidade, transparência e fortes
em tornos de causas e lutas diárias.
E como será que anda os Conselhos de Itaquaquecetuba, Ferraz
de Vaconcelos, Arujá...
Fora as complicações que são comuns em todas as áreas e
cidades, há lutas diferentes a serem travadas pelos lutadores de cultura em
suas cidades natal. Nós, artistas, não trabalhamos com fronteiras. A luta de um
é conquista de todos. Portanto os avanços nas políticas culturais de uma cidade
é avanço de todos!
E se juntássemos nossos Conselhos e avançássemos em ações
conjuntas e de apoio para toda a nossa região? E se fizéssemos barulho? E
se....?
Falta o "nós" e o "o que". Sem o comprometimento, até o fim, de ao menos um grupo pequeno de pessoas todo este contexto tende a esmagar mesmo a mais forte boa vontade.
ResponderExcluirA meu ver o catalisador de qualquer ação dever ser um projeto objetivo, com metas bem definidas de onde se quer chegar e como. Este seria um elemento aglutinador dos esforços e um avanço objetivo nesta discussão em que estamos ainda num plano muito abstrato.
É preciso entender o problema, sua complexidade, profundidade... E, num esforço conjunto, chegar a soluções a partir desta compreensão mais realista do que pode e deve ser feito.
Imagine dez pessoas querendo construir uma casa sem um projeto... É aí que estamos.
Gosto da idéia de juntar os Conselhos e as pessoas... Mas este trabalho de criar uma utopia e de algum modo mobilizar as pessoas em torno de um novo modelo de gestão cultural é essencial para algum avanço concreto. A pergunta talvez seja se as pessoas entendem a importância disto e se estão disponíveis a gastar o tempo e esforço necessários nesta direção. Estamos? Quem é o "nós"? E qual vai ser o uso afinal desta nossa "casa"?