Haiti, Torres Gêmeas e a desgraça escolhida

Por Tuane Vieira

O terremoto no Haiti traz mais destruição e miséria a um povo já tão desesperado e sofrido por anos de ditadura e descaso. Uma pena que neste momento, praticamente acabe com toda a esperança que os haitianos tinham de reconstruir seu país após tanto abandono.

É lógico que a população daquele país, em sua maioria negra e miserável, não merece o menor respeito e pudor. E digo isso pois, após acordar às 10h do dia 13 de janeiro, abri minha internet e vi, na página da globo.com, uma foto de um haitiano, negro, morto, com os olhos revirados (ou seja, não haveria a menor hipótese dele estar apenas ferido; estava morto mesmo), muito parecido com as fotos que a Veja coloca na sua capa quando há catástrofes desse tipo.

Depois do almoço, abro a Uol e vejo a foto de uma mulher, coberta de poeira, chorando, desesperada, a procurar seu filho pequeno embaixo dos escombros.

Neste momento fico me perguntando porque não vi nenhum corpo branco da classe média que morreu nos desabamentos na Ilha Grande (RJ), ou nenhum americano decepado na queda das Torres Gêmeas.

Não há respeito com a dor alheia quando essa dor vem de pessoas pobres, negras, sem o menor tipo de proteção. Não importa qual a história de cada um, o barato é mostrar, sem cortes, quanto o mundo e a natureza pode ser cruel. Crueldade nua e crua, para poder chocar bastante as custas de gente que não pode se defender, pois até as equipes de resgate são escassas e não preparadas para tamanha catástrofe, fazendo do Haiti um grande circo dos horrores para a imprensa golpista dese país desfile um mar de sangue mostrando "olha, os negrinhos são pobrinhos e não conseguem se defender. Vamos mostrá-los ao mundo!"

Esse tipo de barbárie da imprensa nacional me enoja. Me choca saber que depois de tudo o que aconteceu lá e do tempo que levará para aquele país se recuperar (se acontecer), tudo o que importa é saber quantos brasileiros morreram, se eles tinham ligação com a Igreja Católica ou não, se eles eram bons ou não. Não é uma questão de bondade. É de seres humanos que estamos falando. Seres humanos que (infelizmente) não são iguais aos outros seres humanos que morreram no acidente da TAM, ou do terremoto da China. São negros, pobres e que não vão fazer a menor diferença no mundo capitalista e "democrático".

Se existe um Deus, que ele os tenha.

Tuane Vieira
Atriz de saco cheio, não-cristã.

ps: enquanto isso, o Big Brother continua a sua saga de futilidade colocando um monte de gente andando por horas em cima de um tambor. Vá tomar no cú.