domingo, 25 de abril de 2010

Não dá pra "ir pro risco" só na sala de ensaio.

Estamos numa situação única no Brasil no que se refere a seus rumos para os próximos anos - ou talvez décadas - e que ainda não tocamos enquanto agentes culturais, artistas, cidadãos e seres pensantes: o tipo de Brasil que queremos.

Sim, porque pela primeira vez pudemos presenciar a experiência de vivermos esses dois projetos e agora chegou a hora de escolher.

E me estranha muito que essa discussão ainda não tenha tomado corpo pelos fazedores culturais do Alto Tietê. Por aqui também se teve a experiência desses dois projetos. É nótorio e sabido dos avanços na área da cultura - só pra trazer mais perto de nós a coisa - que a cidade de Suzano teve. Acredito que as escolhas políticas que o Prefeito Marcelo CAndido (PT) teve para a área mexeu profundamente com a forma de se ver política cultural na região.

Forçou as cidades a oferecerem maior oferta em oficinas culturais, criar agendas continuadas de ações, melhorar os serviços e espaços culturais, além de reconhecimento da classe artística junto ao seu público garantindo acesso para os eventos.

Bem, obviamente que poucas cidades fizeram tudo isso de uma vez só. Em algumas melhorou isso ou aquilo, mas o que não se pode negar é que, em Suzano, isso se deu!

E agora esse mesmo projeto, mesma forma de olhar está nos sendo proposta a nível federal e não há uma movimentação em defesa desse pensamento claramente. Está numa postura velada, medrosa, escondida. Com aquele discurso da arte ser "apolítica" - um discurso covarde até certo ponto - podemos perder a chance de defender uma das poucas coisas que nos orgulhamos de ter visto a olho nu pelo poder público que é a ação do Programa Cultura Viva que desemboca nos Pontos de Cultura.

E é simples o exercício do pensar:

- em 30 anos de PSDB, PFL, DEMo - é tudo a mesma coisa - no governo do Estado de São Paulo, alguma política cultural nos contemplou?

- há alguma experiência de administração do PSDB, PFL, DEMo - é tudo a mesma coisa - no Alto Tietê ou adjacências em políticas culturais onde desse na mão dos fazedores de cultura a verba pública?

- existe alguém do PSDB, PFL, DEMo - é tudo a mesma coisa - que agente consiga identificar como um expoente na militância cultural?

- PELAMOR!!! Alguém pode me dizer ALGUMA COISA que esses caras fizeram por nós???????

Pois bem. Imagino que já saibamos a resposta.

É preciso agora que vivamos a resposta, propaguemos a resposta, ajamos a resposta, saiamos da nossa zona de conforto com a resposta.

Não dá pra "ir pro risco" só na sala de ensaio.

10 comentários:

  1. Não acho que dá pra julgar as posturas apenas pelo fato de que, ao compará-las com nossa própria postura, as achemos diferentes e, por isso, menores ou piores.
    Há posturas e posturas. E há aquelas que são diferentes, mas são similares no objetivo. Não acredito que fazer campanha ou usar recurso público ou ainda usar o canal "arte" para persuadir ou convencer a população a votar nesse ou naquele partido seja algo sustentável. Acredito em mostrar as opções, como esse post faz em parte. Para que as escolhas sejam feitas de verdade e, portanto, sejam sólidas. Tenho falado muito (e sempre) sobre a importância do programa Cultura Viva, pois é um fato e não um argumento.
    O que acho é que a 'tendência' acaba fazendo a "esquerda" parecer a direita (historicamente mau caráter e tendenciosa). Concordo em muito com o posicionamento do post, mas exigir da classe artística da região um posicionamento político-partidário sem que haja um amadurecimento para tal, isso é dar um passo maior do que a perna. E acho que a maneira ironicamente violenta ("é tudo a mesma coisa") com que o blog se refere à oposição é algo que, a meu ver, diminui a importância (ou tira o foco) das importantes reflexões que vocês têm feito.
    Há política e política-partidária. Por enquanto faço apenas política. E não vou ficar quieto ao ler adjetivos como "medroso e covarde" colocados de maneira genérica e impessoal. Desnecessário dizer porque.

    P.S. E, só pra constar, infelizmente, a experiência de Suzano não fez quase nenhum efeito aqui em Mogi, com relação à sustentabilidade das ações culturais. Embora alguns de nós tenhamos tomado vocês, vizinhos, muitas vezes como referência no diálogo com o poder público. Aproveito para sugerir um post para o blog. Um balanço sobre a política cultural de Suzano.

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  2. Até posso concordar que não podemos ser políticos-partidários. Mas não podemos nos excluir da responsabilidade de estar em um lado e saber muito bem quem luta por nós e quem não luta. A direita não acredita na cultura, em nenhum aspecto. E achar que estamos fazendo política sem nos colocar em nenhum lado é inocência total. Não apóio quem me fode. Se isso é ser partidário, que assim seja. E não há nenhum mal nisso.

    Não podemos ser convardes em defender quem nos apóia, quem olha por nós, quem fez alguma coisa pelos nossos projetos. Se o Cultura Viva existe, é porque tem um governo que pensou nele. E esse governo não é de direita.

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  3. Inocência é se manter inativo dentro da política nacional. Este sem dúvida é um ano histórico, com uma eleição histórica, eu temo, e muito, do que pode vir acontecer depois da escolha do novo presidente da república. Faço, de tudo, para defender o que temos até agora, pois sei, e espero que todos os artistas e formadores de opinião (incluo também os educadores) saibam, a escolha errada trará consequencias que farão nosso país voltar a ser um país "sub-desenvolvido" em todos os aspectos.

    Então! Voto e grito: Serra nunca! Alckmin nunca mais! Chega de fingirmos que está tudo bem! Tá na hora de repensar nosso papel! Tenho minha consciência, a qual não traio nunca. E quem não tem, é hora de formar a sua.

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  4. O Que não podemos mais é nos omitir diante de tanta coisa que esta acontecendo, e continuará acontecendo se não tomarmos uma atitude. Temos que unir a nossa classe e lutar contra esses que fingem que fazem alguma coisa por nós.
    Temos sim que defender os que fazem, os que lutam pela cultura nesse pais acontecer.

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  5. Acho que houve um pouco de mau entendimento da opinião colocada. É também ingenuidade achar com brados brutos faremos uma mudança. A própria política partidária é um jogo no qual não adiantam gritos. Só pra esclarecer: acredito no fazer, muito mais do que no falar. E acho que o falar muitas vezes afasta quem poderia estar por perto. E não acho que sou covarde por não tomar partido público de uma posição política (que tenho). Não usar a mensagem do grupo de teatro do qual faço parte para fazer campanha política aberta, pra mim, é o certo. Não acho mesmo sustentável a escolha política feita com base na tendência. Temos que saber o que estamos escolhendo e não generalizar as coisas com coisas como "Serra não!". E o Arthur Virgílio? E o Rodrigo Maia? E o ACM Neto? O PSDB e a direita vão continuar aí. E quando passarem as eleições? O que vamos fazer? Vamos continuar a gritaria ou vamos dizer "ah, já fizemos nossa parte...". OU vamos continuar o trabalho mesmo com toda a dificuldade. Estou em Mogi (con)vivendo com uma política cultural "igual" há 20 anos. Já vi muita gente na região desistir. E acho qe o caminho é fazer. E é o que estamos tentando, de maneira independente sim. Sem nenhum apoio do governo municipal. Então, não venham me chamar de qualquer "adjetivo" por não expressar minha posição político-partidária abertamente. É uma escolha consciente. Somos oposição sólida por aqui e buscamos a sustentabilidade nisso. Não é brincadeira não. Podemos falar sobre responsabilidade e a história vai ser longa e vai inclusive chegar a um tempo anterior a esse. São muitas histórias anteriores, das cidades, do estado e do país. Então não confundamos responsabilidade com ação político-partidária eleitoral.
    P.S. Tuane, e de inocentes você sabe que nem eu nem você temos quase nada.

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  6. Para não dizer que não falei das flores...
    Analisando a origem da palavra arte, do latim ars, artis, vem de agére que significa agir, veremos que arte é ação, e, neste sentido, o artista é um agente que atua diretamente sobre uma época ou fatos a ela pertencentes. Portanto, neste sentido, a arte adquire função de registrar, documentar e interferir em momentos históricos. Assim, temos a arte como função histórica, transformadora e influenciadora de civilizações. Deste modo, contemplando o papel da Arte enquanto agente de transformação histórica e reflexo de determinado período e sociedade, o homem interage com a sociedade e seu tempo, ou seja, “a Arte é o meio indispensável para união do indivíduo com o todo; reflete a infinita capacidade para associação, para compartilhar experiências e idéias.” Sob este ponto de vista, a Arte é condicionada pelo momento histórico e representa a humanidade, revelando suas ambições, necessidades, ideais e esperanças. Cabe aqui uma observação: ao não perceber a Arte dessa forma, voltamos à visão primeva da Arte não como linguagem, mas sim como magia, representação ritualística e apenas auto-expressão. O artista contemporâneo, ao se propor à pesquisa artística enquanto linguagem não pode abandonar a consciência de que é formador de opinião. Renunciar a isto é colocar-se a favor de uma burguesia que crê na manutenção do status quo permanente e mistifica a atuação dos elementos sociais. O artista tem que deixar claro de que lado está. Se abre mão disso, acaba por reproduzir discursos vazios, que só servem a manutenção do poder estabelecido. E passa anos, culpando os outros, pela sua própria inércia e incapacidade de se organizar.

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  7. A inocência vem de quem acha que não se colocar é o ideal. Ou que se erra quando se OPTA por mostrar em um espetáculo um dos lados que podemos ter. Tudo na vida são opções, não há certo ou errado. A opção do Teatro da Neura é justamente não esconder o seu lado. Nossa visão não é petista. É anti-Serra, que é hoje o maior perigo que se coloca, maior do que o ACM Neto, pior que o Arruda, pior que o Azevedo, pior que o Tuma, pois é esse cidadão que está concorrendo a presidência do Brasil. E se isso é ter uma visão político partidária, que orgulho tenho eu do meu partido. Não abro mão desse posicionamento do grupo em que faço parte, e acho que hoje, nenhum dos integrantes do grupo abre mão disso, pois acreditamos que essa é uma das atribuições que um grupo de teatro tem na sociedade, além de fazer teatro, uma arte burguesa que, na verdade, não interessa muito a muita gente. Fora da época eleitoral, o grupo vai continuar fazendo o que sempre fez, como trazer pessoas como o Marco Antônio Rodrigues pra falar de Fomento, coisa que é sonho nosso, mas pouca gente sabe o que é e ainda se confunde muito com Lei de Incentivo. A responsabilidade está muito além de bradar, mas está em assumir as responsabilidades que nos são dadas, de forma clara e objetiva, todos os momentos do país.
    PS: Claro que quase não somos, Junior. Mas tudo bem, quando se fala de política, ser inocente é quase um adjetivo nessa região.

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  8. Desculpem, mas só vou me estender mais um pouquinho nessa discussão aqui no blog. Embora gostaria muito de fazê-lo em outro fórum. Adorei a contextualização do Fred e acho que acabei ficando como o "do contra" nessa história. Minha posição foi contrária sim, mas a chamar de "covardes" quem não assume a posição "POLÍTICO-PARTIDÁRIA" abertamente, influenciando as pessoas e, no caso do teatro, o público. E vou repetir, por dois motivos: 1-não acho que essa influência seja sustentável; 2-não acho certo (assim como não achei certo quando da edição do Jornal Nacional de Collor e Lula em 89 pela Rede Globo), pois pode significar manipulação da opinião pública. E concordo que o momento é histórico e que não é nada boa uma vitória do PSDB (e não só do Serra) nesse momento. Acato e respeito todas as posições. Acho que a minha é que não está sendo lá muito respeitada. Ok.
    De qualquer maneira, vou fazer uma sugestão: poderíamos nomear quem são as pessoas que só vão pro risco na sala de ensaio. O que acham? Vamos dizer quem são? Quem sabe eu nem seja uma delas.
    (...)
    Pessoal do Teatro da Neura, isso não tem nada a ver com crítica à linguagem de vocês. Acho que isso fica claro com o diálogo que mantemos, ultimamente traduzido em temporadas no Galpão. E adoro que vocês tragam o Marco Antonio Rodrigues e tantas outras pessoas pra Suzano e, por consequência para a região. Vocês estão fazendo coisas legais, assim como há outras pessoas/grupos fazendo também. E em nenhum momento coloquei em discussão NENHUM espetáculo de vocês, muito menos algum posicionamento, como disse a Tuane. É por isso que o espetáculo é de vocês, não é? Por que tem a cara de vocês e diz o que vocês querem dizer. E quando vocês quiserem saber alguma opinião vão perguntar pra quem de direito.
    (...)
    O motivo do meu comentário no blog contuinua o mesmo: vesti a carapuça sim dos que foram chamados de "covardes" por não assumirem a posição político-partidária. E não porque eu não abomine o Serra; nem porque eu tenha rabo preso com alguém, pois EU NÃO TENHO, e com muito orgulho!!! Mas porque tenho um pensamento político construído sobre isso.
    E, Tuane, apenas pra ficar mais claro ainda: não acusei ninguém, nem o Neura, e não coloquei a posição de ninguém sob júdice. Pelo contrário, reforcei a minha posição dizendo que vivo num município de governo PFL-PSDB-DEM por 20 anos, onde não é tudo a mesma coisa, piora cada vez mais, e onde muitas vezes me sinto só, fazendo OPOSIÇÃO. Então, não precisamos fazer comparações. Mas não vou nunca me calar sendo colocado num mesmo balaio que tantos outros. E, pra finalizar, adoraria discutir a inocência e outros assuntos, com você, num outro momento e, sobretudo, num outro canal, por exemplo por e-mail.

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  9. Tudo bem, eu acho que na verdade, estamos falando uma linguagem muito próxima, mas utilizando caminhos diferentes. E não acho que você, Junior, tenha algum posicionamento contrário de "oposição braba" contra o Neura. Muito pelo contrário. Sou grata e acho que brigramos pelas mesmas coisas, mas como já disse em outro momento a você diretamente, em momentos e locais muito distintos. Bobagem achar que essa discussão nos separa, muito pelo contrário. Acredito nessas discussões, seja ela por qual canal for. Mostra que estamos inquietos, e isso é sempre muito enriquecedor.

    Obrigada pelos argumentos! Me fizeram e farão refletir, com certeza.

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  10. É isso, aí! Também concordo com você sobre a riqueza da discussão. Só pontuo as coisas para que fiquem claras, principalmente quando tenho dúvidas sobre o que foi dito. Como por exemplo os "momentos distintos". De qualquer maneira, como já disse tantas outras vezes aqui, são poucos os espaços que lançam/postam coisas interessantes e provocadores aqui na região e esse é um deles. Estou sempre ligado e comentando, como vocês sabem.
    Valeu! e pode certeza que vocês também me fizeram refletir e, sim, repensar minha postura.
    Beijo.

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