quarta-feira, 28 de julho de 2010

A propriedade nossa de cada dia


Ocorrências fortuitas trazem a tona sensíveis mazelas.

Filhos de um capital desenfreado, que a tudo confere preço, nos erguemos conforme é permitido. A cada um incumbe a respectiva dose de submissão, superveniência e obediência. Por vezes é letal.

Aos que lúcidos resistem talvez uma fatia do bolo, talvez um teco, quiçá uma migalha.

A duras penas surge um ou outro júbilo, nada ostensivo, nada ofensivo, apenas ferramentas.

Se tanto foi acumulado promiscuamente por alguns, porque, honestamente, um pouco não é dado aos muitos? As vezes acontece.

Surge um semelhante na desigualdade que, neste legítimo Estado Democrático de Direito, enfrentamos. Um dos nossos estrategicamente excluído para tudo aquilo o qual deverá sujeitar-se. Um eu, um você, moribundo, faminto, desesperado, sacana, malandro, bandido e covarde. Um homem inclinado a quaisquer vias em busca da satisfação globalmente sugerida. Um corajoso. Eis o um que, num súbito, te leva o que nem possui.

São vítimas confrontando vítimas num mesmo golpe.

Um esfomeado que come o pão de outro.

Que fazer quando o sistema arquitetou tocaias para nos manter em guerra? Se tenho, outro leva, se não tenho, ninguém dá.

A saída?

Há saída?

Anunciados estão dias difíceis, não por não ter, mas por necessitar. Nada, além da consciência, irá tapar a necessidade do que fica sem. Trata-se de um trabalho inverso, acostumar-se ao que falta.

Há trégua?

Em um Estado de todos contra todos só há vítimas.

Vítimas devorando vítimas.

Um dever moral é o que nos impede de praticar o mal. A lei existe, punições também, mas é uma diligência particular, um atributo do comportamento humano, o que nos faz respeitá-la.

Não há lei que obrigue a obedecer a lei.

O que há são consciências humanas que embora esgotadas e devastadas, permanecem na prática incessante do bem.

A possibilidade de Ter é direito fundamental.

Saúde, educação e moradia também o são.

Um Estado incapaz de propiciar aquilo que se auto-propos, herança de uma economia altamente internacionalizada durante os anos de chumbo, resquícios de governos elitistas mantenedores de massas incessantemente excluídas, reflexos do dinheiro invisível que nada produz – a inigualável invenção dos juros – dentro da tão sonhada globalização, só fazem aumentar a separação de classes já divididas.

Propaga-se aos quatro cantos tudo que se deve ter, omite-se que os meios estão indisponíveis.

Muitos caem.

Trata-se de um controle social eficaz, uma opressão utilizada com bom-senso.

Ninguém percebe.

Diz-se que somos livres e agraciados com idênticas condições de desenvolvimento.

Não somos.

Daí as emergenciais políticas públicas de inclusão que o Governo Federal executa na forma de medidas afirmativas. Busca-se um idealizado patamar de igualdade, ou ao menos diminuição nos níveis de desigualdade, apenas isto propiciará idênticas condições de evolução aos brasileiros, e, quem sabe, satisfará essa odisséia que se tornou o capitalismo no terceiro mundo.

Em vista de sermos muitos e ante ao serviço do branco norte-americano europeu praticado nessa Terra, não são dois mandatos de um governante popular que irá sanar o prejuízo que a História registrou.

Vítimas seguem vitimizando.

Proponho: Roubem o deles! Saquem bancos!

E, por ora, Ter é negócio arriscado.

Larissa Scripiliti,

roubada desde que nasceu, nada tem.

Um comentário:

  1. Bem, comento p´ra dizer que aquilo que me foi tirado, foi achado.
    Por que?
    Não sei.
    Mas talvez é possível alguns momentos de trocas justas...sei lá.

    Mas seja como for e o que mais a minha vida reservar, pelo menos nesta a experiência foi significativa

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