Se é pra faltar paciência, então que se falte em todas as esferas. Dois pesos e duas medidas não convém com manifestações que se predispõe a discutir políticas públicas mais amplas.
Apesar de sensata todas as reivindicações de alguns grupos de teatro em torno de políticas mais salutares para a arte no país e de estarem a fim de fazer um barulho a respeito disso, é no mínimo estranho que tenham uma postura tão radical no que se refere aos encaminhamentos que o Ministério da Cultura está fazendo e simplesmente não comentem a total falta de existência de política cultural séria no Estado de São Paulo que somos obrigados a viver por mais de 20 anos de governo tucano.
E tenho tranquilo que grandes artistas de luta inquestionável estão a frente desse movimento. No entanto é importante percebermos que podemos por mais caldo aí nesse feijão - se é que a panela não está tampada, é claro.
Se houve uma diminuição dos recursos da pasta em âmbito federal, é também grave o descaso com a distribuição dos recursos pra cultura no Estado. O único edital que o governo do Estado oferece é o PROAC. Pra um Estado do tamanho de São Paulo, é uma vergonha os recursos utilizados para essa ação.
Todas as outras ações não tem nenhum respaldo do governo. Projeto Ademar Guerra, Mapa Cultural entre outros é uma ótima idéia do governo mas que, quem arca com todos os custos são os municípios dentro daquela lógica "mas estamos dando tudo já, ainda querem mais?!".
A independência é uma conquista árdua e devemos estar prontos para o que ela pede que é luta, persistência e coerência com as vontades de todos. E gostaria de ver nesse bolo os movimentos de artistas do Norte/ Nordeste que, pela primeira vez, provaram de políticas culturais e devem estar contentes com os avanços federais.
Se efetivamente é preciso pagar os editais aprovados a partir do ano passado, é importante ressaltar que o unico edital que o Governo Tucano tem aqui é o PROAC que, todos sabem, se transformou num mercado paralelo de ficha técnica onde nem sempre quem assina a determinada função irá cumprí-la na prática levando porcentagem da grana. Isso sem falar da falta de apoio a grupos da grande SP e interior do Estado que vivem a míngua nesse caso uma vez que, de tão poucos recursos destinados a essa ação, a rotatividade de artistas e grupos gerlamente é bem pouca.
Qual mercantilização é pior que a do neoliberalismo que no detona e que ainda rege boa parte das políticas públicas desse Estado? Quem foi que iniciou a conversa sobre as mudanças da Lei Rouanet? FHC ou LULA? Quem principiou as conversas da PEC 150? FHC ou LULA?
Lembremos que, quando José Serra (PSDB, DEM, PFL - é tudo a mesma coisa) entrou como prefeito da cidade de São Paulo, uma das primeiras medidas foi tentar acabar com a Lei de Fomento ao Teatro. Graças a luta e articulação de muitos - mas não todos, sempre - a Lei prosseguiu.
Dessa forma percebemos a importância do movimento, mas sua fragilidade quando se tranca as portas da FUNARTE que já foi palco de várias tentativas de desmonte pelos outros governos e não por esse projeto que não só revitalizou, como reformou suas dependências que, convenhamos, estava em frangalhos. Impedir artitas de se apresentar é, no mínimo, uma postura anti democrática, facista e diria até mimada pois parece que é ilegítimo querer trabalhar a partir de crítérios que, com certeza 100% dos grupos que estão lá reivindicando mandaram projetos.
Se quer reivindicar, é livre também aqueles que querem fazer seu trabalho. Não é a tôa que todos alí estão se revezando: porque trabalham em outros lugares.
E pra terminar, desejo solidariedade aos nobres que lutam, mas cautela aos equivocados. Nada é unânime e surgiro que leiam as determinações da Conferência de Cultura que nos apontam caminhos bem legais e discutidos em ordem federal e não apenas regional como é a manifestação aqui em São Paulo e SÓ em São Paulo (diga-se de passagem).
Fernandes Junior - diretor do Teatro da Neura
também um lutador e trabalhador da cultura