quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os dois ouvidos abertos



Se é pra faltar paciência, então que se falte em todas as esferas. Dois pesos e duas medidas não convém com manifestações que se predispõe a discutir políticas públicas mais amplas.

Apesar de sensata todas as reivindicações de alguns grupos de teatro em torno de políticas mais salutares para a arte no país e de estarem a fim de fazer um barulho a respeito disso, é no mínimo estranho que tenham uma postura tão radical no que se refere aos encaminhamentos que o Ministério da Cultura está fazendo e simplesmente não comentem a total falta de existência de política cultural séria no Estado de São Paulo que somos obrigados a viver por mais de 20 anos de governo tucano.

E tenho tranquilo que grandes artistas de luta inquestionável estão a frente desse movimento. No entanto é importante percebermos que podemos por mais caldo aí nesse feijão - se é que a panela não está tampada, é claro.

Se houve uma diminuição dos recursos da pasta em âmbito federal, é também grave o descaso com a distribuição dos recursos pra cultura no Estado. O único edital que o governo do Estado oferece é o PROAC. Pra um Estado do tamanho de São Paulo, é uma vergonha os recursos utilizados para essa ação.

Todas as outras ações não tem nenhum respaldo do governo. Projeto Ademar Guerra, Mapa Cultural entre outros é uma ótima idéia do governo mas que, quem arca com todos os custos são os municípios dentro daquela lógica "mas estamos dando tudo já, ainda querem mais?!". 

A independência é uma conquista árdua e devemos estar prontos para o que ela pede que é luta, persistência e coerência com as vontades de todos. E gostaria de ver nesse bolo os movimentos de artistas do Norte/ Nordeste que, pela primeira vez, provaram de políticas culturais e devem estar contentes com os avanços federais. 

Se efetivamente é preciso pagar os editais aprovados a partir do ano passado, é importante ressaltar que o unico edital que o Governo Tucano tem aqui é o PROAC que, todos sabem, se transformou num mercado paralelo de ficha técnica onde nem sempre quem assina a determinada função irá cumprí-la na prática levando porcentagem da grana. Isso sem falar da falta de apoio a grupos da grande SP e interior do Estado que vivem a míngua nesse caso uma vez que, de tão poucos recursos destinados a essa ação, a rotatividade de artistas e grupos gerlamente é bem pouca.

Qual mercantilização é pior que a do neoliberalismo que no detona e que ainda rege boa parte das políticas públicas desse Estado? Quem foi que iniciou a conversa sobre as mudanças da Lei Rouanet? FHC ou LULA? Quem principiou as conversas da PEC 150? FHC ou LULA? 

Lembremos que, quando  José Serra (PSDB, DEM, PFL - é tudo a mesma coisa) entrou como prefeito da cidade de São Paulo, uma das primeiras medidas foi tentar acabar com a Lei de Fomento ao Teatro. Graças a luta e articulação de muitos - mas não todos, sempre - a Lei prosseguiu.

Dessa forma percebemos a importância do movimento, mas sua fragilidade quando se tranca as portas da FUNARTE  que já foi palco de várias tentativas de desmonte pelos outros governos e não por esse projeto que não só revitalizou, como reformou suas dependências que, convenhamos, estava em frangalhos. Impedir artitas de se apresentar é, no mínimo, uma postura anti democrática, facista e diria até mimada pois parece que é ilegítimo querer trabalhar a partir de crítérios que, com certeza 100% dos grupos que estão lá reivindicando mandaram projetos.
Se quer reivindicar, é livre também aqueles que querem fazer seu trabalho. Não é a tôa que todos alí estão se revezando: porque trabalham em outros lugares.
E pra terminar, desejo solidariedade aos nobres que lutam, mas cautela aos equivocados. Nada é unânime e surgiro que leiam as determinações da Conferência de Cultura que nos apontam caminhos bem legais e discutidos em ordem federal e não apenas regional como é a manifestação aqui em São Paulo e SÓ em São Paulo (diga-se de passagem).

Fernandes Junior - diretor do Teatro da Neura
também um lutador e trabalhador da cultura

3 comentários:

  1. é isso Cidão... se não queremos ser pautados por governos precisamos definir as pautas antes deles... de fato é um planeta de ocasiões... não é uma luta coletiva.... solidários somos... porque não massacramos os nossos... reforçaria o coro desta invasão... se eu pudesse também jogar um ovo na cara do Kassab e uma banana para o Serra... Cleiton Pereira

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  2. Não dá pra levar em consideração uma manifestação que não cita, no mínimo, os mandos, desmandos e patifarias cometidas por 20 anos de Governo PSDB. Como artista, me sinto mais contemplada por ações do governo Federal, com políticas públicas criadas pelo presidente Lula do que ediatais do PROAC, que todos sabem que são jogos de cartas marcadas, e NUNCA chegam aos grupos de pesquisa da Grande São Paulo. Acho incrível como artistas, ditos "esclarecidos" não citam as demandas da II Conferência Nacional, nem ao menos do setorial de Teatro, demandas essas discutidas e votadas por artistas de TODO O BRASIL. Falta ao 'estado' de SP parar de olhar para o próprio umbigo e começar a pressionar aquele que realmente interessa, pelo menos para se começar do começo para a votação da PEC 150: O LEGISLATIVO.

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  3. Estamos juntos nessa opiniao, Cidao. Estivemos lá, eu e o Cleiton, convidados pelo Ney Piacentini, numa reuniao no Studio 184, na Roosevelt, numa segunda-feira fria. E expusemos exatamente tudo o que vc falou. Mas fomos "tratorados". Falamos DIRETAMENTE da "carona" que "outros partidos" poderiam pegar na manifestaçao. E a resposta foi "Pois que peguem. Nao nos importamos!" Nao voltei mais. E como bem disse o Cleiton "solidários somos... porque não massacramos os nossos...", mas estranheza tem limite. E, em SP, fazer uma manifestaçao por política cultural e nao envolver PSDB, DEM e coligaçoes, é mais do que estranho. Manoel Mesquita Junior - Cia do Escândalo.

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