quarta-feira, 28 de julho de 2010

Teatro de Referência X/ou/e Teatro Amador


Ouço as vezes um certo saudosismo em vozes teatrais quando se fala que o Teatro Amador é bom porque ele é experimental, sem medo de errar e que faz tudo isso por amor a arte. E criticam o teatro mais encorpado porque se distancia da platéia por querer elaborar mais o pensamento e assim levam o nome de "teatro cabeção".

Há quem diga que foi o teatro cabeção o grande responsável pelo afastamento do público nas salas de espetáculo - seja lá onde ela estiver.

Sem querer entrar no mérito - ainda - de qual é a responsabilidade do afastamento do público em teatro - se é que há isso-, é cabal pensar que o público dá para o espetáculo exatamente e na mesma proporção que o espetáculo dá para o público.

De alguma maneira misteriosa essa troca acontece. E quanto mais eu vejo boas peças, mas é perceptível alguns itens que sempre aparecem.

1) Conceito fechado no pensamento mas aberto na leitura: quanto mais o elenco entender o que está falando, sobre qual tema a peça trata e qual sua intenção em cada fala, em cada cena, mais claro será compreender o jogo. Porque o jogo deve ser trocado com a platéia. Ela quer brincar junto. Conceito fechado demais a platéia se desliga e fica pensando em outras coisas. Óbvio que não precisamos ser didáticos demais, mas devemos ter o conceito pronto. A platéia não é burra, ela joga junto, mas se jogamos com ela. Não a tratamos apenas como seres receptivos.

2) Qualidade técnica do elenco: não confundir com ficha técnica aceita no PROAC. Qualidade técnica passa por formação sim, mas nem sempre ela vem de uma educação formal. Vem da experiência de vida e também de experiência na área, com bons profissionais, éticos na sua conduta, parceiros no aprendizado, compreensivos no tempo de cada um. Desde os atores, passando pelos diretores, equipe técnica.

3) Trabalho de continuidade: isso é ferida grave e reconheço que é muito complicado. Como manter um grupo junto por tanto tempo? Não sei ao certo, mas é completamente perceptível a diferença de espetáculo de elenco e espetáculo de grupo. Óbvio que é possível que um grupo pertença a poucos integrantes e aí vamos chamando outros para comporem. Mas será continuidade dos trabalhos que criará uma relação entre o próprio elenco e desse elenco com o público. É como se a platéia seguisse aquele pensamento e fosse desvendando junto a evolução daquele pensamento. Se não há continuidade, o público também não continua. E não adianta enganar. Ou é de continuidade mesmo, ou é evento específico. E nesse caso a platéia até vai, mas sabe do que se trata.

4) Acabamento: nada melhor do que a gente ver que o figurino, a maquiagem, o cenário, a luz, a recepção e até mesmo os agradecimentos fazem parte daquilo que chamamos de espetáculo. Não é porque acabou a peça que a platéia se desligou do espetáculo. Mas isso até que é de menos. O que citei acima é fundamental para que fique a essência da proposta e não o improviso. Acabamento é um signo de um trabalho onde todo o conceito está amarrado e com ligação com a peça. Gente, chega de TNT né. Não importa se é bacana pra aquilo, mas não né.

Esses elementos já vejo que não terminam, mas já iniciam o pensamento - que não é segredo pra ninguém vamos combinar - se temos grupos amadores (agrupamento) ou de referência (em eterna formação).

Não esgota, mas já é um bom começo não é mesmo?

6 comentários:

  1. Hahaha!!! TNT não!!! E quem nunca usou TNT ou algo que o valha que atire a primeira pedra. Sorte que nós temos o Rui desde o começo!!! (rssss) Cidão, quero dar os parabéns novamente a você porque está colocando, aqui, o dedo na ferida de nosso teatro do Alto Tietê com questões que são comuns a todas as regiões. Só é uma pena que não possamos todos discutir esses assuntos com mais profundidade devido à falta de disponibilidade da maioria das pessoas. Mas já vale a pena, ou melhor, a tecla!! (rsss)

    ResponderExcluir
  2. Com um certo atraso, mas vamos lá... Quando proponho uma reflexão sobre teatro amador e teatro de referência quero entender o que estruturalmente diferencia um e outro. Parece simples, mas percebo que é uma relação complexa. O que quero entender é o funcionamento e organização desses dois tipos de grupo. O resultado ou produto dos trabalhos já conhecemos. Sabemos que qualitativamente, um grupo se torna referência por apresentar domínio em determinada técnica ou linguagem e cuidado na produção. No entanto, a discussão que puxo é a seguinte: o que ou quando um grupo rompe o amadorismo para tornar-se grupo de referência? Como é o funcionamento desses dois grupos? Qual a função de cada um deles? E ainda: qual é o papel de um integrante em cada uma dessas situações?
    (E não me venha com salto de qualidade, que salto de qualidade a Arezzo tem...).

    ResponderExcluir
  3. Amábile, um grupo amador pode ser de referência. Um grupo amador não pode ser profissional. Objetivamente porque seus membros não dedicam a maior parte do tempo profissional à função teatral. Isso não significa que um faça espetáculos melhores do que o outro.
    Talvez a base da discussão não seja a comparação entre os resultados artísticos.

    ResponderExcluir
  4. Junior,
    é exatamente isso que quero tratar... Não o resultado, mas a forma de organização, entende?
    Não acredito que a profissionalização via DRT seja garantia de profissionalismo... Nem a formação acadêmica na área (considero importante, mas não essencial)... Penso que comprometimento, dedicação, tempo e etc e tal, formam o bom artista. No entanto, isso são características do indivíduo. Questiono a própria estrutura de grupo. O modo de operacionar a coisa. Botar pra acontecer, saca?

    Bjs
    e um ps pra vc: não consegui abrir seu email. Pode me enviar o arquivo como .doc.

    ResponderExcluir
  5. Mas aí não estamos falando de teatro apenas! E posso te garantir, com a experiência de quem já rodou um pouquinho em outros "ares" profissionais, nem em grandes empresas esse conceito de "profissionalismo" é vigente na prática. Muitas vezes se fala muito em organização e profissionalismo, mas não se pratica. Acho que entendo o que você diz, mas confesso que não sei se entendo o ponto que você quer discutir.
    Jr.
    P.S. Já mandei novamente o e-mail.

    ResponderExcluir