Por Claudio Domingos Fernandes
Você está em dúvida se pretende ou não ser ou continuar sendo professor? Agora você tem um bom motivo para o ser. A Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou projeto da gestão José Serra (PSDB) que prevê aumento salarial extra de 25% aos professores que forem bem em uma prova. A partir de agora, um professor da rede estadual de São Paulo terá condições de, ao final da carreira, chegar a um salário superior a R$ 6 mil mensais.
Note bem, meu amigo: Ao final da carreira (cerca de 25 anos) e depois de passar por exames. Não é só, porém caro amigo, para entrar na faixa dos 10% mais bem pagos do país, você precisa manter-se numa mesma escola e ser assíduo.
Isto não será difícil. Basta apenas você escolher uma escola bem situada, com suas estruturas bem conservadas, com seus equipamentos em perfeitas condições de uso, com um bom quadro de professores, tão animado quanto você e bem entrosados, assessorados por uma boa equipe pedagógica e uma qualificada equipe de apoio, e acima de tudo, com um número razoável (20%) de alunos interessados pelo estudo e assessorados pela família. Meu amigo, você tirará de letra: será um professor por excelência.
Mas façamos um exercício: por restrições orçamentárias, apenas 20% do professorado poderá atingir o patamar dos 10% de profissionais mais bem pagos do país. Considerando, pois, que a maior parte do professorado é desqualificada ou descompromissada (e esta é a aposta explicita deste Governo), vamos supor que na pior das hipóteses 30% do professorado chegue ao mesmo nível de excelência que você, mas, pelo projeto apresentado pelo governo, apenas 20% pode ser contemplado com o miraculoso salário de um pouco mais de seis mil reais.
Pois bem, que critério será levado em consideração para contemplar a você e não a outro se ambos estiverem na mesma situação e puderem ser contemplados? É preciso lembrar que o texto aprovado fala de até 20% e “havendo recursos”. Para alguns especialistas, este até abre margens para que o governo estipule outros índices abaixo desta faixa. Uma queda de arrecadação, por exemplo, pode puxar para 15%, 10% o número de beneficiados. Imagine, meu amigo, depois de todo o seu empenho, na hora da merecida recompensa, falta recurso.
Pois bem amigo, reza, faz figa, vá ao terreiro, bate três vezes na madeira e se apegue a todos os santos para que a economia se mantenha estável ou continue a crescer. Outra coisa, caro amigo, você já leciona no Estado, mas não é efetivo, desculpa! Um abraço! É que a promoção poderá ser obtida pelos 130 mil integrantes efetivos do magistério e para os cerca de 80 mil professores temporários que se tornaram estáveis pela Lei 1010 (SPPrev), quando cumprirem quatro anos de seu primeiro vínculo com a Secretaria de Educação como temporários.
O governo e seus papagaios de plantão falam que “as novas regras da promoção tornarão as carreiras do magistério mais atrativas para bons alunos egressos do Ensino Médio”, no entanto propõe um projeto para quem está ao menos dez anos na rede. Um aluno egresso da Universidade hoje só poderá participar deste processo em 2015, se participar do próximo concurso, for aprovado, passar pela escola de Formação do Estado e assumir cargo em 2011.
Este aluno atingirá, considerando que, uma vez empossado, passe pelos posteriores exames e cumpra todas as exigências, a maior faixa salarial por volta de 2036.
Mas voltemos à economia, algo que não entendo e por isso questiono: Supondo que a economia se mantenha estável e o índice de inflação continue nos patamares de hoje, daqui a 2036 qual será o índice acumulado? O que este jovem professor irá receber será em valores corrigidos? Duvido!
Está para terminar o ano, e não tivemos sequer a correção das perdas do último ano. Então eu tenho a impressão que o mais de seis mil reais que o governo promete pagar aos mais bem preparados professores do Estado daqui a 25 anos, se estes fizerem parte do grupo de excelência se houver recursos suficientes se as regras do jogo não mudarem etc, não vá equivaler tanto mais que a remuneração inicial para a jornada de 40 horas semanais, que hoje é de R$ 1.834,85.
Meu amigo, se você ainda quer entrar neste barco, boa sorte. Daqui a 25 anos teremos uma elite de profissionais bem pagos (espero que você faça parte deste time), mas em vias de aposentar no meio de uma maioria de professores com salários defasados e tão ou mais descontentes que o professorado de hoje que não quer apenas receber bem, mas ser respeitado enquanto profissional, tendo as condições dignas e necessárias para cumprir sua função.
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