sábado, 12 de setembro de 2009

ESDRÚCHULO (ou QUE PORRA TÔ FAZENDO AQUI)?



Quinta-feira, por uma questão de consciência de classe, vergonha na cara de cidadã e trabalhadora da arte suzanense, estive na 2ª noite da Pré-Conferência Municipal de Cultura que aconteceu no Centro Cultural de Suzano.

Fui correndo (estava no médico em Ribeirão Pires, TENTANDO dirigir na Rod. Índio Tibiriçá) para pegar parte da fala do Dep. Estadual Vicente Cândido, autor da Lei de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo, e de muitas emendas à cultura no estado. Grande cidadão e defensor da arte (e corinthiano, diga-se de passagem), artigo raro entre os políticos (de direita e de esquerda). Perdi sua fala inicial, mas ouvi Edson Lima, cientista social e produtor cultural, que com certeza tem muito a oferecer e explanar, com sua competência e currículo. Não nesta ocasião.

O tema era "Financiamento, Sustentabilidade e Cultura no Mercado de Consumo". Ok, ok... temos que saber das leis e mecanismos que podem financiar nossos trabalhos, nos apropriar delas para TENTARMOS ter grana para viabiliza-los.

Mas, pelo amor de Deus, NÃO SERÁ A LEI ROUANET, mesmo com todas as suas alterações e discussões, que nos proporcionará renda. A Lei Rouanet não nos atende, por uma única razão: a iniciativa privada não está interessada em teatro de grupo. E ponto final.

Desafio qualquer pessoa a provar que estou errada: faça teatro de grupo em qualquer cidade do Alto-Tietê (ou em qualquer cidade do Brasil, pode ser São Paulo) e me mostre financiamento privado em qualquer produção nos últimos... 509 anos. Mas vc não pode ter um diretor fodão, fazer parte do projeto Criança Esperança e nenhum global no elenco, ok?

Absurdo é chamar de esdrúchula (sei lá como se escreve) uma Lei que faz com que grupos tenham o mínimo de subsídio para os seus espetáculos e manter seus espaços culturais abertos. E grande parte desses grupos tem um trabalho social com a comunidade: vide como exemplo o Folias D'arte, que tem seu galpão no bairro paulista de Santa Cecília, e que leva oficinas, discussões e vende ingressos com descontos para moradores da região, além de revitalizar a Rua Ana Cintra. Esse trabalho seria possível sem esse recurso? Esses grupos e seus trabalhos refletem sim o pensamento das comunidades em que estão inseridos, e não presos nos próprios "umbigos-criadores-de-artistas-phodidos", até mesmo porque seus trabalhos não seriam nada relevantes para o fazer artístico do país se assim fosse.

Não se pode dizer que cultura é artigo de primeira necessidade (termo usado por diversas vezes na ocasião e nem sempre corretamente) sem pensar que ela merece atenção tanto quanto educação, saúde, segurança e todas essas outras pautas.

E como todas elas, é SIM obrigação do poder público. É obrigação dele fazer com esses trabalhos artísticos sejam apresentados com qualidade e acesso a população, e que não sejam APENAS ENTRETENIMENTO, mas também instrumento de transformação social, política e pessoal.

É preciso ter muito cuidado quando se dirige aos artistas de uma cidade. Assim como o deputado, em sua fala final, que disse que é preciso fazer um trabalho dia-a-dia com o tucanato e democráticos (aham, cláudia...) para se convencer que cultura gera mais emprego e renda do que a indústria automobilística, não se pode dizer que é gasto de dinheiro público quando não se enche teatro.

Minha arte tem que ter a livre escolha de colocar quanto quiser no espaço, assim como de celebrar com quantos quiserem celebrar. A peça do Antônio Fagundes (que roubou o título de uma peça do meu grupo!!!!) não é mais digna que a minha por lotar o Teatro FAAP de senhouras burguesas que pagam 80,00 o ingresso (com Lei Rouanet...). Os teatros públicos estão aí para serem ocupados, sejam com 10, com 50 ou com 500. É o meu trabalho que leva pessoas a esse espaço. Não existe gente acampada em frente ao Teatro Municipal Dr. Armando de Ré esperando para acontecer um espetáculo. Não existe carro na frente de bois.

Bem, este é o meu desabafo.

Depois de encerrada a reunião, fui apertar a mão do Edson, como quem encara de frente seu oponente.

É por conta de pensamentos semelhantes que estamos encontrando dificuldades para criar o programa (que queremos que seja lei) de Fomento ao Teatro de Suzano. Por isso conclamo todos os meus companheiros a estarem juntos (por mais que isso seja utópico - a classe teatral suzanense se nega a pensar - mas isso é pra um outro desabafo) dia 26 de setembro, na Conferência Municipal de Cultura bradando mais uma vez que somos trabalhadores da arte e queremos ser tratados com o devido respeito que nos é de direito.

E sei que nosso prefeito Marcelo Candido está do nosso lado nesta luta, já que é mais um daquele grupo raro de políticos como o Deputado Vicente.

É só o que falta para Suzano virar referência definitiva em cultura.

Tuane Vieira
Membro do Teatro da Neura e Presidente da APAC, e quebra um prato quando ouve a TV Globo chamar alguém de criminoso.

3 comentários:

  1. Fala, pessoal!
    Não entendo a parte de que a "classe tearal suzanense se nega a pensar". A imagem que se passa vindo daí é outra, ao menos pra mim. É de união e de organização.
    (...)
    Sobre o contexto da pré-conferência e da gestão de grana pública para a cultura, tem coisas muito mais "surpreendentes" girando pela região. E é grana que já está por aqui, à disposição da classe artística, mas sob gestão centralizada e déspota.
    (...)
    Gostaria de propor uma mesa temática sobre "recursos existentes e recursos potenciais para produzir a arte no Alto Tietê".
    Assim poderíamos botar às claras o que se tem e o que se pode ter em termos de recursos para a classe artística daqui.
    Ofereço o Galpão Arthur Netto para a discussão. E poderíamos convidar os principais gestores de recursos públicos da região para a cultura. O que acham?
    Evoé!

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  2. Oi, Tuane.

    Acho que você explicitou o que muitos artistas do Brasilzão do interior desejavam ter exposto.
    Nossa herança lusitana é mesmo fomentadora desunião e interesses escusos.
    Temos que dar graça por ainda existirem pessoas como você, lutando por uma causa em que todos nos deviamos enquadrar.
    Espero que a merda a ser dita num futuro bastante próximo seja, única e exclusivamente, a que se usa pra trazer boa sorte ao ator em sua entrada ao palco.
    Boa sorte pra nós, então!

    Grilo Cambuí MG

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