sábado, 5 de setembro de 2009

Cia do Escândalo - Intolerância

Num mundo cada vez mais individualista e com as liberdades individuais indo pro espaço sem nos darmos conta, tratar de intolerância é sempre um buraco fundo que, ao descermos, raspamos pelas bordas do buraco e nos ferimos.

A arte é uma ferramenta para discutirmos esse tema, com certeza. E a Cia do Escândalo foi pra essa empreitada de forma cabal: coloca o nome da peça de Intolerância e a trama é bem direta, ou seja, um acidente de trânsito que acaba em tragédia com consequências psicológicas posteriores.

A concepção estética propõe quase um ritual pela cabeça de pessoas que são invadidas pelo seu individualismo mas que sempre sentem falta do coletivo. Isso aparece bem claro e me vem como uma denúncia. Ligados ao mundo pelos seus casulos sociais - carro, computador, trabalho - acabam por não se sentir mais humano e aí se perdem do seu próximo (mesmo que não o conheça).

E aí já se percebe que a tentativa avança numas questões, mas deixa uns vazios em outras. A quebra de cenas constantes feitas pela luz interrompe uma ligação que acho fundamental com o tema proposto. Porque a platéia está alí, convidada a participar e a refletir com o trauma que os personagens passam mas, por algum motivo, isso é interrompido constantemente.

Não somos só razão. Somos sentimentos também. E sentir, num mundo cada vez mais racional é uma proposta que o espetáculo pode aprofundar mais. Compartilhar também a emoção e deixar que a razão nos invada - porque somos treinados pra isso desde pequenos - nos momento apropriado, quando quizermos.

Impressionante a verdade de Ju Penteado em cada cena e como não parece interpretação o que ela faz! Uma qualidade que ajuda muito a entender a peça e como ela pode chegar. energia pura e com um vitalidade sempre renovada.

A Cia do Escândalo nunca nos deixará ver uma peça e pensar uma coisa só sobre ela. É uma pegada de grupo mesmo.

Assinatura.

E acho que assinatura é assim mesmo. Seja com caneta forte ou falhando, você reconhece sempre.

Um comentário:

  1. Hahaha! Você não me falou, mas eu achei! Obrigado, Cidão! Obrigado pelas críticas que sempre nos fazem crescer.
    Beijo!
    Jr.

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